domingo, 21 de fevereiro de 2016

Eco (1932-2016): cabecinha pensadora

A melhor homenagem a Umberto Eco é lê-lo. Se alguém conhecer familiares mandar-lhes-á um abraço. Não é o caso? Então é lê-lo.
Para mim o Eco interessante será sempre o teórico, não o escritor. Haverá quem discorde. Eu explico: o seu trabalho teórico deslumbrou-me desde que com ele contactei, digamos, lá por fins de 70. Ele escreveu ensaios que são verdadeiros instrumentos de trabalho. Abriu pistas, propôs modelos de leitura, fez com a análise literária o que Andy Warhol fez com as artes plásticas. Só que em vez de estar do lado da farsa, do fake, do faqueiro, da fancaria, Umberto Eco esteve sempre do lado da substância. Era sempre substantivo, pertinente, luminoso. Por culpa sua perdi o respeito por muitos intelectuais, que o seu exemplo como pensador denunciava (mesmo que sem querer) como decoradores de interiores, farsantes, meliantes e outros tratantes. (Agora fugiu-me o pé para o Luiz Pacheco, que também os topava.) A sua ficção, pelo contrário, sempre me pareceu pálida em comparação. Não má – Umberto Eco não fazia coisas más – mas textos onde a inteligência substituía o talento.
É uma opinião, mas adianto-a: a sua obra teórica fica, e é incontornável; já os seus romances...
E no entanto pelo-me por ficção que seja também ensaio – e não estou só neste gosto, apetite, vício. Comparo sempre Umberto Eco com Italo Calvino, que também li todo. O percurso dos dois é quase perfeitamente inverso: Calvino foi um escritor que, pouco a pouco, se começou a interessar por questões teóricas. Eco foi um ensaísta que um dia desaguou na ficção.
Este ano, como nos últimos trinta, incluí Eco nas leituras recomendadas aos alunos.
E assim continuará a ser. Pela parte que me toca, nada muda.


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