segunda-feira, 11 de abril de 2016

Esta quarta, Diogo: um trabalho sobre o Sampling. E uma nota sobre o pós-moderno

Esta quarta 13, além da continuação da matéria dada, será a primeira apresentação de trabalho do semestre. O que é o sampling? Eu suponho que se trate de algum tipo de colagem - algum tipo de escrita recorrendo à técnica moderna e pós-moderna da colagem - mas não sei.

O que distingue o modernismo do «pós-modernismo»? Para começar, as aspas. O primeiro existe, e em muitos ismos, o segundo não é claro. Desde logo, nasce torto: é um pós-, ou seja, tem uma dependência, e nem sequer é um contra, como eram muitos dos ismos: reacções contra. Muito tem sido dito sobre o pós-modernismo, que entretanto teve carreira curta, e hoje quase parece ter desaparecido da discussão crítica. A própria definição é contraditória. Será um regresso aos valores clássicos que o modernismo tanto questionou? Mas um regresso que se sabe impossível, e por isso mesmo irónico - uma demanda do Santo Graal que sabe que o Graal não existe? Um regresso então irónico, que já nasceu cansado, uma adesão que sabe não poder aderir, uma incapacidade mais do que uma paixão, um metadiscurso mais do que um discurso?

Em alguns livros, esbate-se a distância entre realidade-cá-fora e realidade-dentro-do texto... com a suspeita de que a realidade do texto talvez seja mais real que a de cá fora - ao menos aquela não finge que não é ficção! E então temos o narrador de Money a encontrar um «creepy writer» chamado Martin Amis, Italo Calvino a congratular o leitor por ter comprado o último romance de Calvino, «um autor muito bom», na abertura de Se por uma noite de inverno um viajante, um dos protagonistas de A Imortalidade a tomar um cafezinho com o autor Milan Kundera, etc.

Ora, se a realidade se revela ficção - e, sobretudo, se revelam ficção (e da má) os vários sistemas de crença que fomos induzidos a acreditar - então também a ficção perde valor, ao perder terreno. A má qualidade da realidade conspurca - contagia - a qualidade e o valor da ficção escrita.

Hipótese: os escritores pós-modernos são sacerdotes de uma arte da qual duvidam mais do que acreditam.

Tal como os políticos inteligentes seriam vendedores de soluções que sabem ser ilusões. Tempos de cinismo que nem sequer são realistas, porque a realidade acabou. Sabemos hoje que o que ela é depende dos olhos de quem vê. Sabemos que um colectivo pode enlouquecer colectivamente em pleno século XX na sociedade mais industrializada (e, em teoria, «mais culta») da Europa. Sabemos que a I Guerra arrastou milhões de voluntários que marcharam cantando hinos alegres para as trincheiras que, em vez de glória romântica, lhes deram lama e os tornaram cobaias de novos brinquedos: o gás-mostarda, a Grande Berta, os bombardeamentos à distância.

Se a realidade já não existe, então teremos o quê? Uma metafísica? Um novo idealismo? Ora bem o pós-modernismo desconfia da palavra «novo». Tempos Novos, Vida Nova, Estado Novo, Seara Nova... Não será talve por acaso que a única força política portuguesa que ousou recorrer a esse epíteto - a Nova Democracia - tenha sido um fiasco. Um idealismo sem idealismo. Uma crença sem crença. Um investimento sem investimento.

Isto às vezes é giro. Outras uma chatice. Porque se há coisa que o mito do fio de Ariadne prova é que precisamos de acreditar. A questão é, então, terrrível (pelo menos para mim, e sim, terrrível com três erres): como conseguir acreditar num tempo que só está para modas, não para crenças? Onde encontrar um sistema que funcione em rede e não deixe o que é importante escapar por entre os rasgões, as falhas, as fissuras no sistema?

Aqui socorro-me, já há muitos anos, de Peter Handke para a escrita e de Chaim Potok para o discurso crítico.
Handke: «Literatura é [talvez] tornar a minha incapacidade de fazer parte de um sistema na capacidade de não fazer parte de um sistema.»
Potok: «Como respeitar e amar aquilo que somos ensinados a dissecar? Esse é hoje o problema de todos nós.»

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