domingo, 10 de abril de 2016

Publicidade e humor

A publicidade tem por objectivo vender um produto. Tradicionalmente, e como observa Eco nas suas brilhantes análises ao discurso publicitário (cf. trecho deixado pelo docente na Casa das Folhas da AE), alguma manipulação existe, ao ser sugerido que, se comprarmos uma maçã, algo mais ocorre do que, simplesmente, comermos a maçã: todo um mundo mágico pode revelar-se, a nossa vida amorosa mudarr, ficarmos mais felizes e afirmativos, ou mesmo carismáticos, o próprio universo modificar-se perante os nossos olhos para, dócil, se moldar aos nossos caprichos.
Durante décadas não comprávamos apenas um produto de consumo, umas vezes mais útil, outras mais inútil. Comprávamos um lifestyle.
Aos poucos, isso foi mudando. Oh, continuamos a comprar um estilo de vida ao beber uma cerveja (que na verdade só faz barriga), ou um carro (na verdade, apenas nos leva do ponto A ao B, não nos torna melhores pessoas), mas um elemento novo - sub-reptício a princípio e hoje em certos momentos quase dominante - tem contaminado a publicidade. Esse elemento é o humor. Um humor cúmplice que pode mesmo ir ao desmontar do próprio anúncio, fazendo deste não só um texto mas uma espécie de metatexto.
Como que a dizer: «Eu sei que está habituado a ser aldrabado e já nos topas, por isso vamos piscar-lhe o olho, a dizer que nós sabemos que você sabe que o estamos a tentar aldrabar, por isso vamos deixar de ser inimigos e passar a ser cúmplices: não mais de um lado os vendedores a impingirem um café e a dizer que com ele conquista quem quiser, antes gente inteligente e irónica a partilhar ditos espirituosos entre si.»
É aqui que a coisa se complica. Porque dizer «eu sei que você sabe que está a ser manipulado/a» não significa que, na prática, a manipulação não esteja à mesma em curso...

Dois exemplos eficazes em Portugal: as campanhas da PT com os Gato Fedorento e do Licor Beirão com, entre outros, Manuel João Vieira.

E, aqui, uma excelente publicidade a pastilhas contra a tosse que foi considerada demasiado «forte» para passar na TV portuguesa:


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