sexta-feira, 4 de março de 2016

Akira: o cyberpunk oriental


Depois de falarmos de autores clássicos de Ficção Científica, americanos e soviéticos, lembrei-me de um manga emblemático. Da autoria de Katsuhiro Otomo, «Akira» (1982) é a história de um futuro pós-apocalíptico, numa nova Tóquio que foi alvo, 39 anos antes, de um maciço ataque nuclear. Uma história intrincada que envolve poderes sobrenaturais, o poder das instituições governamentais,e também, os temas mais básicos da experiência humana: a amizade, o amor, e a ganância. 

A BD foi editada na íntegra em Portugal, ao longo de 19 volumes a cores, pela Meribérica-Liber. Entretanto, já esgotada essa colecção (e extinta a editora), só conseguirão encontrar a obra ou nos alfarrabistas ou noutras línguas. A Fnac tem a versão inglesa, em 6 longos volumes na versão original a preto e branco. 

Recordei-me destes livros, que li há uns 7 ou 8 anos, porque ontem decidi ver o filme (de 1988) realizado pelo próprio Otomo. Na época em que foi lançado, «Akira» saía em episódios semanais numa revista de BD japonesa. O filme foi feito muito antes do autor concluir a história no papel, e por isso (pelo que a minha memória permitiu entender), o desfecho da narrativa é distinto do que podemos ler na graphic novel. De qualquer maneira, recomendo ambas: são dois exemplos do cyberpunk mais negro e profundo dos anos 80, que é muitas vezes desagradável e repugnante, mas que vale mesmo a pena descobrir. É uma manga muito pesada, violenta e, ao mesmo tempo muito surpreendente, um dos grandes colossos da manga do século XX, e que ainda hoje consegue impressionar. Aqui a sujidade é levada ao extremo, e os andróides de «Blade Runner» tomam aqui o lugar das ameaças nucleares e do medo do apocalipse. E claro que não se aconselha a crianças, mesmo que tenha "bonecos".

O filme está disponível, na íntegra, em HD e com legendas em PT-BR, no Tubo.


2 comentários:

  1. Akira é de facto um texto notável. Obviamente, o filme simplifica. Por razões históricas e geográficas - o Japão foi o único país até agora duas vezes bombardeado com armas nucleares, o arquipélago fica numa zona de alto risco sísmico - as narrativas distópicas pós-nucleares são, lá, um enorme subgénero.

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    1. Sim, desde o Akira até ao Gojira/Godzilla, passando pelo Conan, o Rapaz do Futuro, a ameaça nuclear passa por toda a ficção científica japonesa de várias décadas.

      Não acho que o filme simplifique. Tem é de explicar o contexto e a evolução das personagens de uma outra maneira.

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