terça-feira, 29 de março de 2016

Caetano Veloso e o espírito da performance

Duma entrevista ao semanário Blitz:

BLITZ: «Elogiou o premonitório vídeo de «Lazarus», escrevendo: «tem algo das obras de arte arrebatadoras e inesquecíveis». Emocionou-se ao perceber que, ao que tudo indica, Bowie planeou ao milímetro a sua 'saída de cena'?»
CV: «Cheguei a pensar isso. Mas achei estranho demais. Quando o vídeo de «Lazarus» me pareceu arrebatador, esqueci esse possível aspeto da coisa. O estilo super planejado, super desenhado de Bowie sempre me desagradou um pouco. Sou do período em que a espontaneidade, o horror à hipocrisia, a sujeira anárquica das performances eram o que dava força à arte. Bowie pareceu-me um retrocesso. Precisei esperar anos para entender que certos aspetos do que ele propunha apontavam para o futuro. Não que fosse necessariamente para um futuro melhor.»


Comentário: o que está aqui é uma bela distinção entre arte «perfeita» e arte «suja». Ao longo do século XX, em literatura como nas outras artes, temos essa dicotomia. Os movimentos modernistas caracterizam-se geralmente por uma imperfeição inerente a quem está a rasgar, a experimentar, a tentar. 
Quando se está a pisar terreno novo, é normal que se cometam erros. Quando repetimos passos já dados, é mais fácil fazer bonitinho.

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